PENSANDO

Andei pensando por esses dias:

Afinal, o que é viver?

É evitar as porfias,

Pagar para ver?

É almoçar com a família,

Ter bons amigos?

Não viver em vigília,

Conhecer os perigos?

É amar alguém,

Ter filhos sadios?

Saber quem é quem,

Evitar maus desvios?

É vencer as doenças,

Receber elogios?

Cumprir as avenças,

Ter muitos brios?

É ficar rico,

Ser boa pessoa?

Não fazer fuxico,

Não ser à toa?

É cumprir a palavra,

Seguir bons preceitos?

Ser de boa lavra,

Evitar os mal-feitos?

É saber dizer não,

Saber dizer sim?

Usar o coração,

Não viver em botequim?

É amar aos seus

E aos outros também?

Enfrentar os breus,

Não portar desdém?

É dar esmola,

Ajudar aos doentes?

Não ser ruim da cachola,

Comprender os parentes?

É educar bem os filhos,

Não abusar da mentira?

Não sair dos trilhos,

Não ter crises de ira?

É gostar do que faz,

Pagar as contas?

Não ser contumaz,

Tolerar as afrontas?

É ter bom gosto,

Apreciar comida?

Estar sempre disposto,

Desdenhar de ferida?

É não perder as estribeiras,

Estar bem consigo mesmo?

Não deixar abertas as torneiras,

Não caminhar a esmo?

É saber que não se sabe tudo,

Viver às custas de alguém?

Não fazer dos outros escudo,

Praticar sempre o bem?

É acordar bem cedo,

Não deixar ninguém na mão?

Não cultivar o medo,

Nunca ser vilão?

Não, viver não é isso, não.

Viver é a arte complexa

De caminhar, pelo escuro,

Na companhia da solidão,

À qual a vida está anexa,

E em permanente mutação.