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Autor:
Intérprete:
Júlio dos Santos Oliveira Jr.
Júlio dos Santos Oliveira Jr.
Ôi, pai, você está bem?
Faz tempo que não te vejo.
É que acabei ficando refém
Da vida a varejo.
Quem tem pressa vai devagar,
Como você costumava dizer.
De todo jeito, eu não poderia avaliar
Como é triste fazer para desfazer.
Você tentou me ensinar depressa,
Mas só se aprende aos poucos.
E eu pensava: sai dessa,
Deixando meus ouvidos moucos.
Lembra dos meus catorze anos,
Quando eu achei que era gente?
Muito difícil o controle de danos
Quando se é só adolescente.
E quando eu fiz vinte e um, então?!
Homem feito, dono do meu nariz,
Não perdia sequer a ocasião
De mostrar quem era o aprendiz.
E quando eu chegava tarde
E mamãe não dormia,
Naquele amor que sempre arde
E a tudo entendia?
Você se lembra do meu primeiro casamento,
Aquele em que você me chamou de lado?
Disse: acabou o treinamento,
Agora, você é um homem casado.
Você se lembra do meu segundo casamento,
Aquele com uma mulher desquitada?
Para todos foi um tormento,
Para você, pouco, quase nada.
Você se lembra de quando ficou doente,
Doente mesmo para a vida inteira?
Achei que você ia ficar diferente
E você levantou, sacudindo a poeira.
Obrigado pelos conselhos
E por não interferir.
Sei que não somos espelhos,
Mas sempre te vejo sorrir.
Agora que estou mais velho,
Mais pra lá do que pra cá,
Começei a entender o evangelho:
A vida, também pode ser má.