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Autor:
Intérprete:
Júlio dos Santos Oliveira Jr.
Júlio dos Santos Oliveira Jr.
Marquei encontro, amanhã, comigo.
Ando fugindo, há muito, de mim.
Vou tentar, ver se posso, se consigo
Que ele tenha começo meio e fim.
É muito difícil falar comigo.
Os ouvidos da mente, moucos.
Uma certa sensação de perigo,
Própria de alguns certos loucos.
Já aconteceu outras vezes,
De eu marcar dia e hora
E, tal como os bons soezes,
Simplesmente fugir, dar o fora.
Por que é tão difícil falar comigo?
Será que, no fundo, tenho medo de mim?
Parece uma espécie estranha de castigo,
De prisão. De amarra, de covardia enfim.
Pensei em contratar alguém.
Um bom psiquiatra, talvez.
Que não me tenha desdém
E o faça uma vez por mês.
Mas não deu certo, não.
Eu bem que falava com ele,
Mas ele não falava comigo, não.
Ficava cada vez mais só e só na dele.
Tentei, então, meu melhor amigo.
Mas, ele bebia mais do que me ouvia,
Parecia mais atento ao próprio umbigo.
Lavar roupa suja é para tinturaria.
Num último apelo, tentei minha mulher.
Mas, ela só ouvia a si e a si mesma.
Concluí: faça eu o quê fizer,
Vou caminhar como lesma.
Para não desistir, fiz última tentativa:
Homiziei-me num templo budista, no Tibet.
Não deu certo – o que me impede a recidiva,
Já que tudo não passou de mais um tiro no pé.